Durante o período Edo (1603 - 1868), o Japão feudal vivia sob um sistema que dividia a sociedade em 4 grupos principais: os samurais, os agricultores, os artesãos e os comerciantes. Tal modelo ficou conhecido como "Shinoukoushou" (士農工商, しのうこうしょう) e perdurou por um longo tempo, sobretudo durante o chamado "Sakoku" (鎖国, さこく), o isolamento do país para com o restante do planeta.
Neste artigo, conheceremos mais detalhes acerca desse sistema que vigorou no Japão e influenciou a política do Bakufu durante o xogunato Tokugawa. Além disso, também veremos as características específicas de cada uma das quatro classes principais que representavam a sociedade japonesa à época.

Como complemento, leia os artigos abaixo para entender melhor o contexto e a história do período Tokugawa:
Índice de Conteúdo
O sistema "shinoukoushou"
A palavra "Shinoukoushou" (士農工商, しのうこうしょう) é um Yojijukugo (termo formado por 4 kanjis) que carrega a ideia central de ser a representação de quatro grupos: os samurais, os agricultores, os artesãos e os comerciantes. Em japonês, este vocabulário é composto pelo kanji 士 (し, shi) que significa "samurai" ou "guerreiro", pelo ideograma 農 (のう, nou) que carrega o sentido de "agricultura" e está presente na palavra 農家 (のうか, nouka, agricultor), além de 工 (こう, kou) que representa a figura de um "artesão", "carpinteiro" ou "manufatura". Por último, temos o kanji 商 (しょう, shou) que possui os sentidos de "comércio", "vendas", "comerciante" e "negócios".

Acima, podemos ver como era dividida a pirâmide social japonesa em relação ao quesito "status" no sistema estratificado dos séculos XVII ao XIX. Esse modelo hierárquico teve como influência a ideologia e o pensamento confuciano (filosofia do pensador chinês Confúcio), que foi a base filosófica da terra do sol nascente durante parte da era Tokugawa e que acabou por designar os rumos políticos e sociais de outros países asiáticos, além de gerar atritos com as ideologias de governos autoritários durante o século XX (sobretudo durante a ditadura comunista de Mao-Tsé-Tung) e que retornou no século XXI como conceito proeminente na filosofia de governo de Xi Jinping, na atual República Popular da China.
O shinoukoushou foi motivado e estabelecido por justificativa de alguns conselheiros ideológicos de Tokugawa Ieyasu, como foi o caso do confucionista Hayashi Razan. A rigidez da pirâmide composta por samurais, agricultores, artesões e comerciantes era dura como pedra, de modo que a ascensão dentro desta era extremamente difícil, além do fato de que as posições eram designadas, principalmente, por fatores fixos, como o nascimento. A relação de cada um dos grupos com os daimiôs (os senhores de terra) também diferia em cada caso.
Uma curiosidade interessante é que, nos jogos de RPG japonês, os Dragon Quest, em que sempre temos os comerciantes, os artesãos, os agricultores (em sua maioria NPC's que possuem informações importantes) e os guerreiros (que nesses games nem sempre são samurais).
Os Samurais

De acordo com a maioria das fontes históricas, os samurais eram cerca de 10% da população nesse período (alguns autores colocam a porcentagem entre 8% e 10%). Ao final do século XIX, deixaram de existir como figuras bélicas, abandonaram suas espadas e aram a ser integrantes da sociedade civil, tornando-se heimin (plebeus).
Os Agricultores

Representavam mais de 80% da população do período e tinham elevada importância na sociedade, devido a grande necessidade de se fornecer alimentos. O trabalho imposto sobre os agricultores era pesado, mas, apesar disso, a fome era uma constante no meio rural. A maior parte dos trabalhadores rurais era formada de pequenos agricultores e arrendadores que haviam sido forçados a abandonar suas próprias terras e a trabalhar em prol da agricultura nacional.
Os Artesãos

Os artesãos produziam produtos, quinquilharias e itens fundamentais para a sobrevivência e o cotidiano, mas representavam uma parcela minoritária da população e, somados aos comerciantes, eram apenas cerca de 5% a 10% da população japonesa. Foram figuras importantes que propiciaram ao Japão materiais de grande utilidade. Podem ser considerados como o embrião da indústria japonesa que veio a crescer consideravelmente no século XX.
Os Comerciantes

Como dito anteriormente, os comerciantes eram, em conjunto com os artesãos, menos de 10% da composição populacional da sociedade. Os comerciantes ficavam no último lugar da pirâmide, pois possuíam pouco status ao lidar tão somente com a venda (e compra) de bens manufaturados por artesãos e alimentos produzidos por agricultores nas fazendas e terras camponesas. Entretanto, movimentavam a economia e eram importantes para a circulação dos bens materiais.
Conclusão
Após o fim do sistema Shinoukousho, a sociedade japonesa ou a criar um sentimento nacional mais unificado, tendo em vista que os antigos privilégios de classe e as diferenças hierárquicas estavam começando a ser, de certa forma, deixadas de lado em prol de um sentimento coletivo que favorecesse a figura do estado-nação moderno e o imperialismo japonês.
Nos dias atuais essa classificação, obviamente, não existe mais. Todavia, há autores contemporâneos que afirmam que a hierarquização da sociedade ainda é algo muito presente, mesmo que em outros termos e em outro contexto de civilização.
E aí? Gostou do artigo? Então comente, curta e compartilhe nas redes sociais!